“Viaje longe o suficiente e você se encontrará.”
(Mitchell, 2004)
O pluriculturalismo é uma abordagem que considera a nossa identidade como algo que contém experiências em diferentes culturas. Ele nos possibilita enxergar e enxergar o outro como seres humanos complexos e vivenciar um processo em que ambos têm muito a contribuir. Por isso, o processo ensino-aprendizagem, especialmente do ensino bilíngue de línguas adicionais, precisa contemplar mais do que apenas as datas comemorativas celebradas nos países onde elas são faladas.
Através dele, os alunos podem desenvolver uma formação ética que considera a existência do “eu” e do “outro”, o que os ajuda a construir o sentido de responsabilidade para valorizar os direitos humanos, o respeito ao ambiente e à coletividade, o fortalecimento de valores sociais, tais como a solidariedade, a participação e o protagonismo voltados para o bem comum, e, sobretudo, a preocupação com a intolerância.
A educação bilíngue proporciona o desenvolvimento de mais formas de se comunicar. Ela dá aos alunos oportunidades de perceberem o outro, seus costumes, modos de vida e formas de pensar e de se expressarem mais amplamente. Podemos então nos perguntar: será que fazer uma atividade em papel sobre uma data comemorativa é falar sobre cultura e desenvolver os valores que queremos desenvolver? É isso que contribui para o desenvolvimento das formas de interagir dos alunos e torna as relações com o estrangeiro mais saudáveis?
O trabalho com culturas deve acontecer durante o ano inteiro e deve também valorizar os modos de vida do nosso país com toda a sua riqueza e multiplicidade, pois “é imprescindível que os alunos identifiquem a presença e a sociodiversidade de culturas indígenas, afro-brasileiras, quilombolas, ciganas e dos demais povos e comunidades tradicionais para compreender suas características socioculturais e suas territorialidades”. (BNCC, 2018.) Ele permite conhecer e ter contato com diferentes culturas e modos de vida de regiões e comunidades para falar sobre jogos e brincadeiras, por exemplo. Nesse processo, podemos até conhecer a origem de algumas delas! Se partirmos da diversidade que existe dentro da nossa sociedade, começamos a caminhar para a noção de que uma identidade nacional única é algo que já não faz sentido.
E onde entra a língua adicional? Algumas escolas da África, por exemplo, utilizam o inglês como ferramenta de comunicação com escolas de outras partes do mundo. Ela é o elo que une os alunos e possibilita que conversem, interajam, troquem ideias e até participem de projetos conjuntos. Por meio de texto, vídeo, música e obras de arte, eles têm a oportunidade de refletir sobre a igualdade, a diferença e a beleza de outros modos de vida sem que isso seja visto como algo “estranho”, exótico ou estereotipado. Aliás, o estereótipo é algo que pode ser trabalhado de forma muito rica dentro da educação bilíngue. Propor provocações e reflexões sobre como os outros e nós somos retratados permite questionar a forma como reforçamos clichês e preconceitos em torno dos povos e coloca em xeque a ideia de que existe uma identidade cultural única e fixa nas sociedades.
Além disso, ampliar nosso repertório cultural também possibilita observar as mudanças sociais e históricas que acontecem e que influenciam a cultura para entendermos que a diferença existe e que ela não significa desigualdade ou superioridade. Isso permite desenvolver o respeito “[…] que penetre todas as práticas sociais e seja capaz de favorecer processos de democratização, de articular a afirmação dos direitos fundamentais de cada pessoa e grupo sociocultural, de modo especial os direitos sociais, econômicos e culturais, com o reconhecimento dos direitos à diferença” (CANDAU, 2008, p. 108).
Somos todos diferentes e não há problema algum nisso, pelo contrário. As diferenças nos permitem aprender, fazer conexões, compartilhar e discordar com empatia e respeito ao nos enxergarmos como seres humanos diversos e cidadãos do mundo. “O multiculturalismo obriga os educadores a reconhecer as estreitas fronteiras que moldaram o modo como o conhecimento é partilhado na sala de aula. Obriga a todos nós a reconhecer nossa cumplicidade na aceitação e perpetuação de todos os tipos de parcialidade e preconceito. Os alunos estão ansiosos para derrubar os obstáculos ao saber” (HOOKS, 2017, p. 63).
Eles estão de fato de braços abertos para o mundo e nós devemos atender a este chamado.
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