Na esfera escolar, a missão de formar alunos não se limita ao uso de estratégias pedagógicas, mas também envolve uma relação de confiança entre a equipe profissional, alunos e seus responsáveis. A partir desse princípio, entra a gestão de recursos humanos na escola, que é o nosso assunto de hoje.
“Educação é um processo humano de relacionamento interpessoal e, sobretudo, determinado pela atuação de pessoas. Isso porque são as pessoas que fazem diferença em educação, como em qualquer outro empreendimento humano, pelas ações que promovem, pelas atitudes que assumem, pelo uso que fazem dos recursos disponíveis, pelo esforço que dedicam na produção e alcance de novos recursos e pelas estratégias que aplicam na resolução de problemas, no enfrentamento de desafios e promoção do desenvolvimento”
Heloísa Lück
A gestão de recursos humanos para o gestor escolar pode ser desafiadora, uma vez que trata do relacionamento entre pessoas de todas as idades, as quais formam uma comunidade de aprendizagem.
Aliar boas práticas de RH aos propósitos da instituição garante a melhora do clima e cultura organizacionais. Portanto, é importante que o gestor escolar compreenda as estratégias do mundo corporativo que mais se adaptam à realidade da sua escola.
A área de Recursos Humanos
A implementação de políticas e práticas de desenvolvimento de pessoas é essencial para garantir a competitividade e a sobrevivência da organização, considerando-se que o conhecimento humano é o maior fator competitivo das instituições. Por isso, tanto se fala sobre a importância de investir na capacitação do corpo docente.
Segundo Vicente Falconi, autor do livro “O valor dos Recursos Humanos na Era do Conhecimento” e um dos mais respeitados consultores empresariais do País, existem dois tipos de conhecimento a serem adquiridos pelos colaboradores que podem se encaixar perfeitamente para o universo escolar:
- Conhecimento operacional: está contido nas operações repetitivas de uma empresa e pode ser
padronizado. - Conhecimento inovador: é necessário para questionar as ações repetitivas da empresa, para
criar novas soluções, novos produtos e novos processos.
Esse último, caracterizado pela quebra dos padrões, só poderá ser utilizado pelo desejo voluntário das pessoas. Portanto, nesse caso, o fator motivação se torna determinante.
Nesse contexto, Falconi define Motivação como o “nível médio de satisfação de um grupo de pessoas. É o estado de saúde mental do grupo”. E seus fatores básicos consistem em:
- Influência do gerente: percepção da equipe de que o líder deseja ajudá-la (dando suporte para que ela atinja suas metas, educando-a em novas perspectivas, elogiando-a em seu bom resultado, etc.);
- Bom ambiente de trabalho: trabalho interessante, local limpo e organizado, justiça, amizade, cooperação;
- Trabalho em grupo: a educação e o treinamento em grupo devem ser previstos no Plano geral de educação e treinamento, desenvolvido pelo RH. Esse é um plano geral para toda a vida do funcionário, não apenas um plano anual baseado em necessidades circunstanciais.
- Reconhecimento: meta e escore. Alegria de atingir a meta. Elogio;
- Crescimento constante: aprendizado constante.
Gestão de recursos humanos na escola
Como explicamos no nosso e-book, a gestão de recursos humanos na escola é um dos pilares da Gestão Escolar, juntamente com a gestão pedagógica, a administrativa, a financeira, a gestão da comunicação e da comunidade escolar.
Dentre todas as áreas, o RH é considerado uma das principais, pois perpassa entre todas as outras, conforme afirma a doutora em educação, Heloísa Lück: “As demandas e possibilidades de atuação sob a dimensão da gestão de pessoas são múltiplas, pois interferem em todas as ações da escola e se articulam com todas as demais dimensões de gestão escolar”.
Ao adequar os conceitos da área de RH nas empresas à gestão de recursos humanos na escola, a educadora elenca os principais elementos a serem adotados:
- Motivação
Equipes motivadas desenvolvem o comprometimento com o trabalho escolar, fazendo com que elas se reconheçam nos valores educacionais. Por meio do seu esforço e competências, os colaboradores se aproximam da realização dos seus objetivos pessoais e de carreira, ao mesmo tempo em que contribuem para a formação e aprendizagem de alunos,
- Espírito de equipe
“O trabalho em equipe se forma quando um conjunto de pessoas se envolve em um esforço coletivo para resolver um problema ou produzir um resultado, compartilhando responsabilidades por esse resultado.”
Trabalhar em conjunto não se trata de um grupo de pessoas que atuam no mesmo ambiente, e sim compartilhar do mesmo ideário educacional, respeitar a legislação e normas, assimilação dos objetivos educacionais, adequar os interesses pessoais aos sociais e educacionais. Além disso, o diálogo e a comunicação aberta são cruciais para desenvolver o espírito de equipe, assim como, os progressos individuais passam a ser coletivos.
- Diálogo e comunicação abertos e constantes
O gestor escolar promove, juntamente com a equipe, reflexões sobre a missão da escola, alinhamento dos valores e formas de implementação e divulgação. Da mesma forma, as decisões compartilhadas também são bem-vindas no diálogo aberto, sobre os destinos da escola, o projeto pedagógico, medidas de monitoramento e avaliação, entre outros assuntos.
- Ambiente centrado na aprendizagem continuada
Cabe ao gestor escolar organizar, liderar e orientar a capacitação profissional em serviço, que é constituído por um plano sistemático e abrangente, conforme as expectativas de desenvolvimento da escola, em relação ao processo educacional.
Nesse plano são definidos objetivos, estratégias e atividades com foco no desenvolvimento de competências profissionais – conhecimentos, habilidades e atitudes – em especial dos professores.
Esse processo de capacitação em serviço acontece dentro da escola e permite a adoção de diversas atividades, como observação, análise e feedback sobre experiências profissionais; grupos de estudo; oficinas práticas; troca de experiências, estratégias e material didático entre os professores; planejamento de implantação de novas práticas profissionais; entre outras.
“O desenvolvimento da competência profissional é de vital importância para todos que atuam em educação, como condição de aprimoramento de sua identidade profissional baseada em promoção de resultados cada vez mais eficazes e capacidade de responder efetivamente aos desafios sempre novos da educação.”
- Cultura de avaliação e autoavaliação
“Sem avaliação de desempenho, não há gestão do trabalho de pessoas, assim como não se promove o aperfeiçoamento desse desempenho.”
Essa é uma estratégia de gestão que permite identificar os aspectos a serem reforçados ou reavaliados. Por meio da observação, análise e reflexão, esse método exige uma organização sistemática, com registros claros e objetivos.
Dessa forma, o gestor escolar tem a oportunidade de acompanhar a rotina da escola, se aproximar do trabalho da sua equipe e influir em todo esse processo.
“Considerando a dinâmica do trabalho educacional, a avaliação de desempenho é um processo contínuo, dinâmico e sistemático de construção de conhecimento sobre como ocorre o desempenho profissional, na perspectiva da evolução da organização da escola, dos serviços prestados em todas as áreas de atuação e em especial, nas atividades de ensino−aprendizagem.”
Essa imagem, ou reputação, que cada instituição de ensino carrega é resultado da atuação de todo o quadro funcional. Ou seja, não só os professores, coordenadores e diretores, mas todos os demais colaboradores (portaria, faxina, secretaria, cantina…). Todos eles fazem parte da personificação da escola e, portanto, devem agir de acordo com os seus propósitos.
Cultura escolar
A gestão de recursos humanos na escola não se limita às ações internas, no ambiente escolar, ela passa a ser uma disseminadora da cultura institucional para todos os seus públicos – corpo docente, colaboradores, alunos e suas famílias.
“A escola não é o prédio, não é a quantidade de recursos ou equipamentos que ela tem. Ela não é o seu nome. A escola são as pessoas.”
Prof. Marco Antonio Ferraz
Por isso, é essencial que a escola tenha seus princípios pautados na solidariedade, reciprocidade e valores educacionais elevados, fazendo com que a comunidade escolar se mobilize na mesma direção, sempre focada na formação e aprendizagem dos alunos.
“Os colaboradores são o maior bem que uma escola pode ter. Profissionais bem selecionados, motivados, reconhecidos e, de certa maneira, com vocação para a educação, falam melhor a língua da escola, transmitem em suas atividades o DNA da instituição e isso não tem preço”.
Rubens M. Pierozzi
(Professor do curso de gestão de RH em entrevista à Revista Educação)
- Cinco práticas de recursos humanos na escola - 30 de janeiro de 2020
- Como fazer a gestão de recursos humanos na escola? - 6 de dezembro de 2019
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