Os recursos humanos são considerados o ativo de maior valor em uma organização. E no segmento escolar, trata-se de uma área que passa por todos os outros pilares da gestão administrativa, tamanha sua importância. Mas, como é trabalhada a gestão de recursos humanos na escola?
Da mesma forma que uma empresa possui e investe no setor de RH, as instituições de ensino também só têm a ganhar ao aplicar as boas práticas do mundo corporativo, adaptando-as à realidade escolar. Afinal, o ser humano é a peça-chave para o sucesso das organizações educacionais, tanto para o eficiente trabalho educativo quanto na condução de processos.
Segundo Heloísa Lück, doutora em educação, por se tratar de uma organização social, a escola desenvolve sua própria identidade, de acordo com a liderança empregada e a forma de ser e fazer em relação a todos os aspectos comportamentais, desde a competência dos colaboradores, passando pela comunicação, até a expressão de valores, crenças, interesses, opiniões e objetivos reais.
Tais circunstâncias se resumem ao clima e cultura organizacionais, que se imprimem no cotidiano escolar, influenciando nos resultados e na qualidade do ensino. E essas questões, juntamente às ações e reações orientadas por objetivos – de caráter social ou individual, educacional ou corporativista – refletem diretamente no comportamento humano.
“Quanto menor a empresa, mais importante são as pessoas. Uma empresa com oito pessoas não pode errar na escolha de nenhuma. As pessoas são ainda mais importantes nas empresas pequenas. Elas se destacam como um farol na escuridão.”
Francisco José M Lacombre
(Livro Recursos Humanos)
Princípios da gestão de recursos humanos na escola
A gestão de recursos humanos na escola tem como base a seleção, formação, integração e aperfeiçoamento de uma equipe, a partir de objetivos organizacionais bem definidos. Assim, cada colaborador conhece o seu papel – individual e coletivamente – dentro da instituição.
Para isso, é fundamental que a escola priorize uma administração que valorize as pessoas, considerando suas inquietações e individualidades, e, consequentemente, proporcione as melhores condições organizacionais, operacionais e didático-pedagógicas para a atuação efetiva do corpo funcional. Cabe ao gestor escolar promover um ambiente que estimule as atividades em grupo e o relacionamento interpessoal, tornando a instituição significativa, produtiva e motivadora.
Práticas de recursos humanos na escola
O setor de recursos humanos na escola é considerado um dos principais pilares da Gestão Escolar, conforme falamos no artigo Como fazer a gestão de recursos humanos na escola, pois ele perpassa por todas as outras dimensões – pedagógica, administrativa, financeira, da comunicação e da comunidade escolar.
Com isso, elencamos cinco práticas a serem adotadas pela área de recursos humanos na escola e que também podem servir de orientação para adaptar ou repensar os padrões da sua realidade escolar.
1- Liderança no desenvolvimento de pessoas e de equipe
O gestor ou diretor deve cumprir seu papel de líder educacional, o que demanda uma liderança clara e eficiente para com a comunidade escolar. Dessa forma, é possível criar uma visão de conjunto, evidenciando o papel da instituição e de cada integrante no processo educativo.
De acordo com Lück, a figura do líder prepara e mobiliza a equipe, “na articulação de esforços; no compartilhamento de responsabilidades conjuntas; na formação de uma cultura de aprendizagem; na integridade, na ética e na justiça expressas por equipes de trabalho continuamente acompanhadas, orientadas e estimuladas”.
Motivação, espírito de equipe, diálogo e comunicação abertos e constantes são alguns dos principais elementos para o exercício da liderança na gestão de recursos humanos na escola.
2- Investir em capacitação profissional
Visando a melhoria das práticas educacionais e o desempenho profissional, a capacitação do corpo docente promove o senso de responsabilidade para a transformação na educação, tornando-o capaz de acompanhar as mudanças e novidades do setor, além de resultar no aperfeiçoamento da sua identidade profissional.
Em conformidade com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases), no Art. 13º, Inciso V, ao professor compete “participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional”. Assim, cabe ao gestor de recursos humanos na escola organizar um plano sistemático e abrangente aos educadores, a fim de utilizarem o tempo disponível em serviço para a sua capacitação.
Esse trabalho tem como base pôr em prática um conjunto de ações designadas e coordenadas pelo gestor, com o propósito de desenvolver competências profissionais – conhecimentos, habilidades e atitudes -, em especial nos professores, associando teoria e prática no ambiente escolar. Esse processo consiste em: observação – reflexão – construção de conhecimentos – ação.
3- Formação de equipe e compartilhamento de responsabilidades
Embora pareça óbvio, a contratação e a retenção de talentos é uma das principais estratégias de gestão na área de RH.
No entanto, a importância dos recursos humanos na escola se dá pela complexidade do processo educacional que exige um trabalho em conjunto e envolve pessoas dos mais variados segmentos e contextos. Articular todas as partes, lidando com as adversidades e perspectivas de atuação de cada colaborador, é crucial para alcançar a excelência no processo educacional.
Essas são algumas das condições propostas por Lück para a formação de equipes educacionais e a tomada de decisões em conjunto (compartilhamento de responsabilidades):
- O cultivo do mesmo ideário educacional;
- O respeito pela legislação, normas e regulamentos educacionais;
- O entendimento dos objetivos educacionais a nortearem as ações específicas de cada setor ou área de atuação;
- A adequação de interesses pessoais aos interesses sociais e educacionais;
- A existência de práticas de comunicação (diálogo e relacionamento interpessoal);
- Formação de redes de interação;
- Transformação de progressos individuais em coletivos;
- Dinâmica de grupo equilibrada e diligente.

4- Integração escola-comunidade
Essa prática de aproximar o colégio da comunidade, inclusive dos pais, tem se mostrado fundamental para o bom desempenho da escola e para a qualidade do ensino.
Escolas premiadas, referências nacionais em gestão escolar, declararam que uma das principais estratégias para “levantar” uma escola em falência é justamente abri-la para a comunidade. Por exemplo, por meio de concessões de uso do espaço escolar em troca da recuperação e conservação do patrimônio.
Contudo, essa integração deve acontecer de forma sistemática e organizada, por meio de programas de parcerias na educação, promovendo um esforço bilateral entre a escola e a comunidade, inclusive empresas.
As boas parcerias geralmente englobam o enriquecimento das experiências educacionais dos alunos, a partir da atuação de ambos, escola e empresa. Essas ações podem envolver os funcionários de uma empresa, para atuarem como tutores ou palestrantes na escola, por exemplo, ou, ainda, por meio de contribuições materiais ou monetárias. E, em troca, a escola pode proporcionar experiência e visibilidade social para a empresa e aos funcionários participantes, ou o uso das instalações, recursos acadêmicos, entre outros.
“Por meio dessas parcerias, a sociedade demonstra aos alunos o seu compromisso com a educação e a importância que atribuem a esse processo, dessa forma criando para eles não apenas melhores condições de aprendizagem, mas também uma mensagem da importância desse processo.”
Heloisa Lück
5- Avaliação 360º
Avaliar o desempenho da equipe escolar é tão importante quanto investir na qualificação desses profissionais, uma vez que é possível identificar competências e habilidades, além das dificuldades enfrentadas, necessidades, oportunidades e desafios a serem superados.
É certo que a avaliação do corpo docente em uma escola não se dá pelas características do profissional em si, mas, sim, nos resultados que ele proporciona à comunidade escolar. Portanto, não se trata da avaliação de pessoas, mas do seu desempenho, que pode variar conforme as circunstâncias.
Lück defende o preenchimento das fichas de avaliação da liderança por toda a comunidade escolar, ou seja, diretores, professores, alunos, pais e demais funcionários. Assim, aqueles que tiverem condições legítimas de avaliar a atuação dos profissionais podem ser avaliadores. Portanto, cada grupo será responsável por responder questões pertinentes à sua rotina escolar (tópicos em que ele tem contato e, portanto, apto a responder). Dessa forma, com o compilado de informações e resultados, é possível chegar a um diagnóstico efetivo.
De acordo com o Tutorial de Recursos Humanos do Governo do Estado de SP, a avaliação de desempenho possibilita:
- Conscientização da percepção de si próprio, pares e gestores;
- Priorização de ações para definição do plano individual de formação;
- Informações para devolutiva sobre comportamentos e resultados;
- Clareza do que é esperado de cada função;
- Informações para a gestão de desempenho dos profissionais (formações e ações de desenvolvimento mais adequadas, reconhecimento de pessoas, etc.).
“Mudanças organizacionais, sozinhas, não solucionam coisa alguma. Pessoas competentes, talentosas e dedicadas podem obter sucesso com quase todas as estruturas organizacionais. Já pessoas medíocres, que não têm bom desempenho, serão ineficientes em qualquer tipo de organização.”
Francisco José M Lacombre
(Livro Recursos Humanos)
- Cinco práticas de recursos humanos na escola - 30 de janeiro de 2020
- Como fazer a gestão de recursos humanos na escola? - 6 de dezembro de 2019